Doença genética ganha medicamento no SUS
A
polineuropatia amiloidótica familiar é uma doença hereditária e progressiva que
pode levar os pacientes à morte dez anos após os primeiros sintomas
Foi publicada no dia 18 de janeiro de 2018, no
Diário Oficial da União (DOU), a decisão do Ministério da Saúde de incorporar à
lista de produtos distribuídos na rede pública de saúde o medicamento com o
princípio ativo tafamidis, primeiro e único tratamento específico para
pacientes com polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), uma doença genética
rara e irreversível, mais comum em descendentes de portugueses. A previsão é a de que o produto esteja
disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em até 180 dias após a publicação no
DOU.
Hereditária e progressiva, a
PAF costuma levar os pacientes à morte dez anos após os primeiros sintomas, se
não houver tratamento adequado. Aprovado na União Europeia desde 2011 e
comercializado em mais de 30 países, o medicamento vem sendo amplamente estudado
em todo o mundo. Atualmente, cerca de 1.300 pacientes estão em tratamento com a
medicação e seu programa clínico reúne dados de segurança coletados ao longo de
dez anos.
A doença é causada por uma
mutação no gene da proteína TTR, o que leva à produção de proteínas instáveis.
Essas estruturas defeituosas, em vez de fluírem pelo plasma sanguíneo, se
acumulam em diferentes órgãos do corpo, interferindo em seu funcionamento. O medicamento age impedindo que essas proteínas
se desestabilizem. "Anteriormente, a única opção de tratamento para a PAF
era passar por um transplante hepático, um procedimento bastante complexo. Por
isso, o medicamento chega como uma opção muito importante para esses
pacientes", afirma Eurico Correia, diretor médico da Pfizer, fabricante do
medicamento.
No estudo principal, após 18
meses de tratamento, 60% dos pacientes que utilizaram tafamidis não tiveram
progressão da doença, ante 38% daqueles tratados com placebo, segundo a escala
NIS-LL (Neuropathy Impairment Score of the Lower Limb), que é um sistema de
avaliação clínica que reúne testes de sensibilidade, força muscular e reflexos
para dimensionar o comprometimento dos membros inferiores em pacientes com
neuropatias periféricas. Tafamidis também se mostrou capaz de impedir a perda
de peso corporal não intencional nos pacientes, uma vez que a PAF costuma ser
acompanhada por distúrbios gastrointestinais que muitas vezes levam à
desnutrição.
A
doença
De origem predominantemente
portuguesa, a PAF passou a integrar a lista de doenças raras prioritárias para
o governo brasileiro desde 2014. Esse aspecto a torna especialmente importante
para o Brasil, que abriga um número de descendentes de portugueses maior que a
própria população de Portugal. Embora se trate de uma doença rara, em Portugal
a PAF apresenta uma prevalência elevada, chegando a um caso a cada 500
habitantes em algumas regiões. Os japoneses também apresentam uma incidência
aumentada da doença em relação à população em geral, assim como suecos e
africanos.
Embora não existam
estatísticas oficiais sobre a PAF no Brasil, estima-se que existam milhares de
brasileiros com a doença, o que pode fazer do País uma das nações com o maior
número de pacientes no mundo. Projeções da Academia Brasileira de Neurologia
(ABN) sugerem, contudo, que mais de 90% desses pacientes ainda não tenham sido
diagnosticados, considerando o amplo desconhecimento sobre a doença no País. Em
Portugal, ao contrário, mais de 90% dos portadores já foram identificados,
possibilitando a esses pacientes a chance de tratar a doença precocemente e
melhorar seu prognóstico.
Andréa Guardabassi para Destak Saúde/Saúde Repórter



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