Saúde do homem: prevenção é o melhor remédio
Cerca de um terço dos homens
brasileiros não tem o hábito de procurar ajuda médica para acompanhar a saúde e
buscar auxílio na prevenção de doenças
Alertar
a população masculina sobre a importância de cuidar da saúde e da realização de
exames preventivos é a principal proposta da campanha “Novembro Azul”. O
diagnóstico precoce de doenças permite tratamentos menos agressivos, mais
baratos, rápidos e com maior chance de cura.
Uma
pesquisa do Centro de Referência da Saúde do Homem de São Paulo do Sistema de
Saúde Pública (SUS), divulgada em 2016, revela que o número de homens que
procuram um médico para fazer uma consulta preventiva é 30% menor que o de
mulheres e que 60% dos pacientes chegam ao serviço com doença avançada.
Os
homens se cuidam menos, vão menos ao médico, vivem cerca de sete anos e meio a
menos do que as mulheres e morrem de doenças que poderiam ser prevenidas como
acidentes vasculares, infartos, câncer e doenças do aparelho digestivo.
De
acordo com a pesquisa, uma das respostas mais comuns entre os homens (55%) é
que não buscaram os serviços de saúde porque nunca precisaram. Para o Dr.
Geraldo Faria, coordenador do “Novembro Azul 2017” da Sociedade Brasileira de
Urologia (SBU), um dos fatores que podem estar associados à questão do homem
procurar menos ajuda médica é o fato de não existir um profissional que seja o
médico do homem, diferente da mulher que tem o acompanhamento do ginecologista
desde a época posterior ao pediatra.
“Até
cerca dos 12 anos de idade, meninas e meninos são acompanhados pela mãe ao
pediatra e depois disso, elas são levadas ao ginecologista, enquanto os meninos
ficam órfãos de um acompanhamento médico, procurando um especialista apenas
quando apresentam um problema de saúde. Apesar da urologia não ser uma
especialidade exclusivamente masculina, existe uma identificação muito grande
do homem com o urologista para cuidar da saúde dele”, ressalta o médico da SBU.
Segundo dados do
Ministério da Saúde, as doenças que mais matam a população geral, ainda são as
cerebrovasculares, como o derrame. No Brasil, o câncer de próstata é o tipo de
câncer mais frequente na população masculina e a quarta maior causa de morte
por câncer. Porém, quando diagnosticado no início, tem seus riscos de mortalidades
reduzidos.
Segundo
dados da SBU, estima-se que 20% dos homens diagnosticados com o câncer de
próstata no Brasil descobrem a doença quando já está em fase avançada, com metástase
(quando a doença se propaga para outros órgãos).
O
bancário aposentado, Fernando César de Souza, de 61 anos descobriu há seis
meses um câncer de próstata metastático e alerta: “Eu tive uma lesão na lombar
e foi assim que descobri que estava com câncer de próstata e que a doença
estava nos meus ossos. Eu não tinha sintoma algum, não tem histórico da doença
na família e não poderia imaginar que algo estivesse errado com a minha
próstata. É por isso que temos que fazer o controle da saúde, não é porque não
tem sintoma que não precisa ir ao médico”.
Souza
realizou a sua última sessão de quimioterapia na semana passada e conta que
passou pelo tratamento sem efeitos colaterais, com o suporte da família e dos
médicos que deram muito apoio. “Hoje meus exames estão todos em ordem e pronto
para ter uma vida cada vez mais normal. O meu recado para outros homens é que a
prevenção é o mais importante de tudo”, enfatiza o aposentado.
O
diagnóstico precoce de câncer de próstata reflete, diretamente, na redução de
mortalidade pela doença. As chances de sucesso no tratamento chegam aos 90%
quando o diagnóstico é feito nas fases iniciais de desenvolvimento do tumor.
O CÂNCER DE PRÓSTATA EM NÚMEROS
·
2º câncer mais frequente entre os homens após os tumores de pele
·
(não-melanoma)
·
1 diagnóstico de câncer de próstata a cada 7 minutos
·
1 óbito pela doença a cada 40 minutos
·
61 mil novos casos de câncer de próstata em 2017
·
25% dos portadores de câncer de próstata morrem devido a doença
·
20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados em
·
estágios avançados
·
Quando os sintomas começam a aparecer, 95% dos casos já estão
·
em fase adiantada
·
Não é possível prevenir a doença, mas é possível diagnosticá-la
·
precocemente
·
O diagnóstico precoce possibilita chances de cura de 90 %
Fontes:
INCA (Instituto Nacional do Câncer), OMS (Organização Mundial da Saúde) e SBU
(Sociedade Brasileira de Urologia)
Exame urológico
Entre
os desafios da campanha Novembro Azul está a ampliação da adesão aos exames de
toque retal e o exame de sangue PSA (proteína
produzida pelas células da glândula prostática), capazes de diagnosticar
o câncer de próstata precocemente, aumentando as chances de sucesso no
tratamento.
Quanto
maiores os valores do exame PSA, maiores os riscos de câncer. Já o exame de
toque retal tem o papel de identificar áreas irregulares ou endurecidas na
próstata. É menos preciso que o exame de sangue PSA, mas é capaz de detectar
tumores mesmo que o exame de sangue esteja normal. “Os dois exames, quando associados,
aumentam a sensibilidade e a especificidade para o diagnóstico”, explica o
cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Urologia do A.C. Camargo
Cancer Center, Gustavo Cardoso Guimarães.
Durante
o X Fórum de Políticas Públicas e Saúde do Homem, realizado na semana passada
na Câmara dos Deputados, em Brasília, a Sociedade Brasileira de Urologia,
promoveu a discussão sobre os desafios da resistência masculina ao exame urológico
do câncer de próstata, revelando que os principais tabus em torno do toque
retal são machismo, preconceito, falta de informação e vergonha.
Os
dados são de um levantamento que a sociedade médica encomendou ao Instituto de
Pesquisas Datafolha para identificar os hábitos de saúde e medir o conhecimento
dos homens acima dos 40 anos sobre o câncer de próstata. Realizada em sete
capitais brasileiras, com 1062 entrevistados, o estudo revelou ainda, que
apesar das barreiras socioculturais, 76% dos participantes reconhecem que o
exame de toque retal ajuda no diagnóstico preventivo do câncer de próstata.
Assim
como diversos tipos de cânceres, os tumores malignos da próstata costumam ser
assintomáticos, ou seja, não apresentam sintomas no início de seu
desenvolvimento. Esse fator, associado à baixa adesão da população masculina ao
programa de rastreamento por meio dos exames de PSA e toque retal, dificultam o
diagnóstico precoce.
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda
que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado,
para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de
primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento
deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios.
Após os 75 anos poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de
vida acima de 10 anos.
Fatores de risco
A
hereditariedade é um dos principais fatores de risco para o câncer de próstata.
A chance é duplicada ao se ter um parente de primeiro grau com a doença. Se
forem dois familiares, o risco aumenta em cinco vezes.
Pessoas
da raça negra também têm mais chances de ter a doença. Estudos apontam que
afrodescendentes têm risco 60% maior e a taxa de mortalidade é três vezes mais
alta. Um terceiro quesito que deve ser levado em conta é a obesidade e o sedentarismo.
Tratamentos
O tratamento do câncer de próstata dependerá
da avaliação de alguns fatores importantes como a agressividade da doença,
medida por uma escala chamada Gleason, associada ao valor do resultado do exame
de PSA no sangue.
É o patologista, que com base na aparência do
câncer ao microscópio, atribuirá uma pontuação Gleason. Em geral, quanto menor
a pontuação, melhor o prognóstico.
Somente após a biópsia (retirada de tecido
tumoral) é possível determinar a extensão e os tipos de células cancerosas para
determinar qual será a melhor estratégia de tratamento para cada tipo de
câncer.
“Quando a doença está localizada na próstata,
o paciente passará por algum tipo de tratamento ativo, que pode ser a cirurgia para
a retirada da próstata (prostatectomia radical) ou por meio da radioterapia, com
ou sem hormônio”, explica o coordenador do Centro Oncológico do Hospital BP,
Dr. Fábio Schutz.
A prostatectomia radical, consiste na remoção
de toda a próstata, bem como tecidos que envolvem a glândula, incluindo as
vesículas seminais. Entre as complicações pós-cirúrgicas mais preocupantes
estão a disfunção erétil e a incontinência urinária grave.
“Não é verdade que todo mundo que passa pela
cirurgia fica impotente. A verdade é que a minoria fica impotente, a vasta
maioria, se bem operada e de forma precoce, vai manter a potência e a
continência. As estatísticas mostram, que a impotência grave, aquela que o
paciente não consegue manter nenhum tipo de atividade sexual, é de 3% a 5%”, desmistifica
Dr. Schutz.
Em alguns casos mais específicos, a
radioterapia pós-operatória, chamada de adjuvante, também é indicada, como
parte do tratamento. A quimioterapia não é um tratamento padrão para o câncer
de próstata inicial, mas alguns estudos estão procurando verificar se pode ser
útil se administrada por um curto período de tempo após a cirurgia.
“Uma outra forma de tratamento que vem
ganhando força nos nos últimos anos é a observação vigilante, na qual não se
trata um câncer de pequeno volume, com Gleason baixo e baixa agressividade. Nós
passamos a acompanhar a evolução da doença em exames periódicos, sem a
necessidade de expor o paciente a um tratamento ativo”, complementa o
coordenador do Centro Oncológico do Hospital BP.
Robótica
Atualmente, cerca de 85% das cirurgias para
câncer de próstata são realizadas utilizando a plataforma robótica nos Estados
Unidos. Este procedimento também vem aumentando progressivamente no Brasil,
seguindo uma tendência mundial.
No Brasil, a robótica é já uma realidade nos centros
de referência pública em tratamentos oncológicos como o INCA (Instituto
Nacional do Câncer), no Rio de Janeiro e ICESP (Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo), bem como em hospitais particulares como Sírio Libanês, Oswaldo
Cruz, Albert Einstein, A.C. Camargo, Hospital Nove de Julho, Samaritano e Rede
D’Or São Luiz.
Dr.
Rafael Coelho, urologista do Hospital Albert Einstein explica que a cirurgia
robótica é uma cirurgia laparoscópica com o acoplamento de uma plataforma
robótica. “O robô oferece uma visão
tridimensional do campo cirúrgico, em que controlamos os braços robóticos que
nos permitem reproduzir os movimentos das mãos humanas com maior firmeza e precisão”,
reforça o urologista.
A
robótica é uma técnica cirúrgica estabelecida e minimamente invasiva para o
tratamento do câncer de próstata, que pode diminuir o risco de consequências
indesejadas da prostatectomia radical, como a incontinência urinária e a
disfunção erétil.
“A
plataforma promove melhor visão, amplitude e qualidade de movimentos, além de
menor trauma aos tecidos, o que repercute em menor dor, melhor estética e
recuperação precoce com retorno às atividades cotidianas”, ressalta Rodrigo
Frota, coordenador do Programa de Urologia Robótica da Rede
D’Or São Luiz.
Legenda: O
Hospital Albert Einstein realizou em 2017 cerca de 3mil procedimentos por meio da cirurgia robótica. Com tecnologia de
ponta, conta com a mais moderna geração de robôs do sistema Da Vinci (The Da Vinci Surgical System).
Atualidade e futuro
O uso da ressonância magnética
multiparamétrica da próstata tem possibilitado uma melhor avaliação da glândula
permitindo a identificação mais precisa de áreas suspeitas de câncer. O exame
está indicado principalmente quando o paciente já realizou biópsias anteriores negativas,
mas continua apresentando alterações clínicas e laboratoriais sugestivas da
presença da neoplasia. Com esse exame é possível mostrar exatamente em qual
área é necessária a biópsia.
Estudos recentes têm apontado que no futuro, a
imunoterapia pode vir a substituir a quimioterapia no tratamento do câncer de
próstata. Outro avanço é em relação ao tratamento do câncer de próstata
avançado. Pesquisadores acoplaram uma substância radioativa ao marcador do
câncer de próstata PSMA em pacientes com doença metastática. Houve uma grande
regressão da doença, uma vez que a substância radioativa “matava” o câncer e
provocou a regressão de metástases.
Por Andréa Guardabassi para Especial Novembro Azul Jornal Destak, 27 de novembro de 2017



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