ESPECIAL CÂNCER DE MAMA
Uma em cada oito mulheres desenvolve câncer de mama, sendo a principal causa de mortalidade por câncer feminino
O mês de outubro acabou, mas o
movimento de conscientização e educação sobre o câncer de mama não pode parar.
O segundo tipo de câncer mais comum em mulheres em todo o mundo merece muito
mais do que um mês de atenção. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA),
em 2017 serão 58 mil novos casos da doença.
Para o Presidente do Conselho
Deliberativo da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Dr. Ruffo de Freitas
Jr., a grande maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de mama não estão
tendo acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós compilamos os dados do
DATASUS (órgão nacional que administra informações da saúde pública) de 2015 e
observamos que apenas 25% das mulheres com câncer de mama foram tratadas pelos
SUS. Sabemos que a grande maioria da população brasileira, 50% ou mais, depende
da rede pública para cuidar da saúde. Onde estão as outras mulheres
diagnosticadas com câncer de mama?”, questiona o presidente.
Um trabalho brasileiro sobre
câncer de mama, publicado em 2014 pelo Grupo Brasileiro de Estudos em Câncer de
Mama (GBECAM), realizou um levantamento nos serviços públicos e privados do
país, revelando que as mulheres brasileiras tratadas nos serviços públicos
tiveram o dobro de chance de apresentar o diagnóstico de câncer de mama
avançado, quando comparado ao serviço particular.
Os principais obstáculos do
acesso estão relacionados as dificuldades na realização de exames de detecção e
na demora no início do tratamento pelo SUS. Estudos mostram que o tempo entre
os primeiros sintomas físicos de um câncer de mama e a chegada da brasileira na
rede pública de saúde, é em média, de 270 dias. “Isso significa que muitas
vezes, uma mulher vai gastar 2/3 do ano para ter acesso e só então começar o
tratamento. Muitas delas também não têm o acesso adequado ao diagnóstico, por
falta de estrutura adequada. Faltam recursos e estratégias para melhorar a
governança do SUS”, ressalta Dr. Freitas Jr.
Luciana Holtz, fundadora do
Instituto Oncoguia, acredita que a questão do acesso à saúde da mulher no
sistema público é o principal entrave para garantir um diagnóstico precoce,
agendar um médico e iniciar a tempo os tratamentos. “O controle e a prevenção
do câncer precisam ser declarados prioridade pelo nosso governo e todas as
ações já prometidas serem efetivamente colocadas em prática. As ações e planos
existem, podem melhorar, contudo não são executadas”.
Detectar o câncer em um estágio
inicial, além de aumentar em mais de 90% os índices de cura, também reduz o
impacto financeiro, evitando o afastamento das atividades produtivas do
paciente e em muitos casos, também de familiares que assumem o papel de
cuidador. Pesquisas indicam que o custo de um tratamento contra um tumor em
seus estágios iniciais pode ser quatro vezes inferior aos gastos de um paciente
com a doença em estágio avançado.
Dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que o custo aproximado do câncer no mundo atualmente é de
US$ 1,1 trilhão, entre gastos com saúde e perda de produtividade.
Na semana passada, o Ministério
da Saúde anunciou que pretende ampliar o acesso a exames de diagnóstico do câncer
de mama pela rede pública. Os valores repassados para os procedimentos devem
triplicar a quantidade anual dos exames e biópsias realizadas, dos atuais 69,3
mil para 200 mil. Ao todo, serão investidos R$ 9,4 milhões por ano.
Durante coletiva de imprensa, o
ministro da saúde Ricardo Barros, anunciou também a compra de 100 aceleradores
lineares para todo o país, equipamentos utilizados na radioterapia.
Embora o caminho para a
conscientização e acesso ao diagnóstico precoce ainda seja longo, muitos são os
avanços e as conquistas das últimas duas décadas, com tratamentos cirúrgicos
menos agressivos, melhoria das tecnologias de diagnóstico e radioterapia, novas
terapias intravenosas e orais e o suporte multidisciplinar e integrativo que
permitem os pacientes oncológicos viverem cada vez mais e com melhor qualidade
de vida.
A jornada do diagnóstico precoce
Atualmente, o câncer de mama pode
ser uma condição totalmente gerenciável. Quanto mais cedo for detectado,
maiores as chances de eficácia no tratamento e até mesmo a cura.
O sucesso no tratamento do câncer
de mama, se deve à possibilidade de tratar de forma personalizada cada caso.
Não existe um protocolo engessado, cada mulher receberá um tratamento
diferenciado, dependendo do histórico familiar, fatores de risco, o tipo e
características do câncer e o estágio em que foi detectado.
“Quando uma paciente chega com o
diagnóstico positivo, o primeiro desafio é ajudá-la a entender a doença. É
necessário acolher a paciente da melhor forma possível, interpretar o resultado
e explicar o que ele significa, para que ela compreenda o raciocínio que o
mastologista tem daquela situação e definir o melhor desenho de estratégia de
tratamento”, explica Dr. Silvio Bromberg, mastologista do Hospital Albert
Einstein.
O objetivo é garantir que a
paciente tenha a melhor experiência de tratamento com o menor número possível
de efeitos colaterais e que ao mesmo tempo ofereça a melhor chance para a saúde
a longo prazo.
1. Suspeita
Ao perceber um nódulo ou alguma
alteração anatômica importante de sua mama, como vermelhidão, inchaço, mamilos
invertidos, nódulos e secreções, fique atenta!
2. Visite o médico
O primeiro passo é agendar uma
consulta médica com o ginecologista ou mastologista, que avaliará a sua
suspeita por meio do exame clínico (apalpação) e solicitará uma mamografia
3. Mamografia
A mamografia é um exame
radiológico altamente eficaz na detecção precoce do câncer de mama,
identificando lesões benignas e cânceres, como calcificações e nódulos. É
indicado anualmente para todas as mulheres a partir dos 40 anos idade. Mulheres
com casos de câncer de mama na família devem iniciar mais cedo.
4. Reavaliação Médica
O laudo da mamografia é feito por
um radiologista e se houver suspeita de câncer de mama, o seu médico poderá
solicitar exames complementares como ultrassonografia e ressonância magnética.
5. Biópsia
Em caso positivo de câncer de
mama pelos exames de imagem, o seu médico solicitará uma biópsia que será
realizada por um cirurgião. Uma amostra de tecido da mama será removida e
levada para a análise de um patologista, que identificará os tipos de células.
6. Tratamento
A partir do tipo de células
identificadas, você e seu médico discutirão as melhores opções de tratamento
para o seu tipo de câncer, que podem incluir, a cirurgia para a retirada total
ou parcial da mama, radioterapia, quimioterapia, hormônio terapia ou terapia
alvo.
Uma doença heterogênea
O câncer de mama é a consequência
de mutações genéticas que ocorrem em uma célula do tecido mamário. Essas
mutações fazem com que uma célula adquira algumas particularidades anormais, se
dividindo de maneira desordenada e exagerada, gerando um aglomerado de células
malignas, que dão origem ao tumor.
Essas células malignas, podem tanto
crescer localmente, na própria mama, bem como se desprenderem no sistema
linfático ou na circulação sanguínea, espalhando para outros órgãos do corpo
(metástase).
É uma doença bastante
heterogênea, englobando vários tipos de cânceres de mama. É a partir da análise
microscópica que o patologista realiza das células do tecido mamário extraído
da paciente (biópsia), que é possível identificar a presença ou ausência de
receptores hormonais (estrógeno e progesterona) ou de uma proteína denominada
HER2, especificando o tipo de câncer.
Ele é classificado em diversos
tipos, com características e graus de gravidade diferentes. O mapeamento da
extensão da doença é que determina se ela é inicial, avançada ou metastática.
Todas essas especificações e critérios são extremamente importantes para a
definição do tratamento correto.
A maioria das mulheres com câncer
de mama fará algum tipo de cirurgia como parte de seu tratamento, seja mais
conservadora (retirada parcial da mama) ou a mastectomia (retirada total da
mama). A terapia adjuvante, ou seja, complementar à cirurgia, possibilita que o
médico oncologista defina a melhor estratégia de tratamento para diminuir as
chances de recidiva, a partir das características de cada tipo de câncer.
“Quando o câncer está focado na
mama, sem metástase, os índices de cura são elevados. Eu sempre digo para as
minhas pacientes que após a cirurgia ela não tem mais o tumor e todo o tratamento
que vamos fazer é para diminuir as chances dele retornar”, reforça o
oncologista clínico do Hospital Albert Einstein, Dr. Orem Smaletz.Esse é o caso de Rogéria Aliberti, contadora, 51 anos, que recebeu o diagnóstico de câncer de mama há 16 anos, um mês e meio após dar à luz. Era um carcinoma ductal invasivo, o tipo mais comum de câncer de mama, que se inicia em um duto de leite, que rompe a parede e cresce no tecido adiposo da mama. Após a cirurgia, Rogéria foi submetida a quimioterapia e radioterapia.
“Como eu era jovem e tinha uma
boa saúde, eu e meu médico optamos em utilizar todos os recursos disponíveis
para garantir o sucesso do tratamento. No final da gravidez, eu sentia um
caroço na mama e achei que fosse a formação do leite. Quando a minha filha
nasceu e eu comecei a amamentar, as dores eram insuportáveis, eu chorava de
dor. Procurei meu ginecologista que me encaminhou imediatamente para a
realização da mamotomia (inserção de agulha até a lesão para a retirada de
fragmentos) e exames de sangue que confirmaram a suspeita.”
Por outro lado, o câncer de mama
em estágio mais avançado, que apresenta metástases em outros órgãos,
dificilmente tem cura, mas possui tratamentos para controlar a doença,
possibilitando que as pacientes vivam mais e com melhor qualidade de vida.
Em 2010, a aposentada Elfriede
Galera, de 65 anos, foi diagnosticada com câncer de mama metastático nos ossos
e pulmão. Após realizar quimioterapias e uma mastectomia na mama esquerda, ela
convive com a doença em nível avançado há sete anos. “As pessoas têm medo de
falar de câncer metastático, porque ainda existe muito preconceito em torno da
doença. Eu não digo que sou uma sobrevivente do câncer, eu continuo com ele, e eu
vivo uma vida normal e com qualidade de vida. É muito importante nessa fase
você entender o seu câncer e eu tenho um relacionamento muito diferente com o
meu oncologista, conversamos muito, trocamos ideias e falamos sobre a evolução
da doença”, enfatiza Elfriede.
Tratamentos
Os tratamentos disponíveis para o
câncer de mama, incluem as terapias locais e as sistêmicas. Cirurgia e
radioterapia visam tratar o tumor no local, sem afetar o resto do organismo. As
terapias sistêmicas são medicamentos orais ou intravenosos para atingir as
células cancerosas em qualquer parte do corpo. A quimioterapia (destruir,
controlar ou inibir o crescimento das células doentes), a terapia hormonal (bloquear
ou suprimir os efeitos do hormônio sobre o órgão afetado) e a terapia-alvo (drogas
anticancerígenas que têm como alvo uma determinada proteína ou mecanismo de
divisão celular) são exemplos de terapias sistêmicas.
Autoexame
Conhecer a anatomia das próprias
mamas é o melhor caminho na detecção de mudanças que possam representar algum
risco. O autoexame regular possibilita cada mulher a conhecer a aparência, a
densidade, o tamanho e a temperatura de suas mamas.
No banho ou deitada na cama,
coloque a mão atrás da cabeça. Com os dedos da mão contrária, realize
movimentos circulares, iniciando pelo mamilo e se estendendo cuidadosamente por
toda mama, até chegar à axila.
Depois, fique de frente para o
espelho. Com os braços abaixados ao longo do corpo, observe o aspecto das suas
mamas. Levante os braços, colocando as mãos na cabeça, e veja se ocorre alguma
mudança no contorno das mamas ou dos mamilos. Repita a observação, colocando as
mãos na cintura e apertando-a. Para finalizar, aperte o mamilo delicadamente e
observe se sai qualquer secreção.
A constatação de alterações
cutâneas ou nos mamilos, de nódulos ou espessamentos, e de secreções mamárias,
não significa necessariamente a existência de câncer. Por isso, se alguma
anormalidade for constatada, é preciso procurar um especialista para fazer um
exame completo.
A promoção da saúde integral
Equipes multidisciplinares e
multiprofissionais são uma realidade cada vez maior nos centros de saúde
pública e privada do Brasil. Os profissionais de diversas áreas trabalham de
forma integrada para proporcionar qualidade de vida e bem-estar aos pacientes
em todas as fases do tratamento do câncer de mama, cuidando dos aspectos
físicos e psíquicos.
Enfermeiros, preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas,
psicólogos, psiquiatras, radiologistas, enxergam o paciente de forma
individualizada, de acordo com as suas necessidades, entendendo e respeitando
suas emoções. A humanização do paciente oncológico ajuda a promover o alívio da
dor física e emocional.
A Medicina Integrativa é outra abordagem, que também busca
ajudar no processo de cura do paciente, auxiliando em todas as dimensões da sua
existência, equilibrando corpo, mente e espírito. Nesses procedimentos são
aliados tanto remédios alopáticos e tratamentos tradicionais, como terapias
alternativas.
A PNPIC (Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares) criada em 2006 instituiu no SUS
abordagens de cuidado integral à população por meio de recursos terapêuticos, integrando
práticas como fitoterapia,
acupuntura, homeopatia, medicina antroposofica e termalismo, arteterapia, ayurveda, biodança, dança
circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia,
reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa e yoga.





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