Uso de robôs na cirurgia bariátrica cresce no Brasil



Aumento das cirurgias robóticas a cada ano aponta uma tendência de democratização da tecnologia em alguns hospitais públicos e privados

A cirurgia videolaparoscópica revolucionou a cirurgia abdominal na década de 90 com a opção de um acesso minimamente invasivo, mais seguro, mais rápido, menos doloroso, proporcionando maior rapidez na recuperação dos pacientes e com menos complicações.

No início dos anos 2000, o uso de robôs tornou as operações por vídeo ainda mais precisas e eficazes em diversas áreas de atuação médica. Desde 2008, a cirurgia robótica está disponível no Brasil.

Para Keith Kim, diretor médico do Instituto de Cirurgia e Medicina Metabólica do Celebration Health, na Flórida, “a robótica é a próxima revolução no campo da cirurgia depois da era laparoscópica. Inúmeras pesquisas estão sendo realizadas, o que possibilitará aos cirurgiões utilizar esses conhecimentos na execução de operações difíceis com muito mais confiança e precisão”.    

O robô oferece uma visão tridimensional e um amplo arsenal de instrumental cirúrgico, que proporciona uma movimentação delicada e precisa para a realização de cirurgias em áreas de difícil acesso.

A empresa norte-americana que desenvolveu a tecnologia e manteve sua patente por 15 anos, conforme as normas de propriedade intelectual da agência regulatória FDA – Food and Drug Administration, possibilitou nos últimos anos que cerca de um milhão de pessoas no mundo tivessem acesso a essa tecnologia a cada ano.

Com as patentes das três gerações de robô expiradas desde o ano passado, empresas concorrentes devem investir em novos modelos robóticos possibilitando melhores custos-benefícios para os sistemas de saúde de muitos países que possuem acesso limitado à tecnologia.

 Custo ainda é alto

O principal gargalo dos sistemas robóticos é o custo, em média de US$ 3,5 milhões por equipamento. Há ainda outras despesas, como a de treinamento, estimadas em até US$ 8 mil por profissional, e os custos de manutenção do sistema, que consomem anualmente US$ 100 mil por robô.

“O alto investimento restringe o uso dos robôs aos grandes hospitais. No Brasil, os planos de saúde cobrem as cirurgias laparoscópicas, mas não o uso do robô”, destaca Alexandre Amados Elias, cirurgião do aparelho digestivo do Instituto Garrido, de São Paulo.

Segundo uma empresa fabricante dos robôs, até o final de 2015 existiam apenas 15 sistemas desse tipo no Brasil, contabilizando um terço dos robôs vendidos para a América Latina. Nos Estados Unidos, atualmente o número ultrapassa 2,5 mil equipamentos.

“Hoje, o Brasil conta com 23 robôs espalhados pelos principais estados. A expansão de duas seguradoras de saúde privadas que possuem hospitais em quase todo o país começou a democratizar o acesso a essa tecnologia em diversas modalidades, como urologia, ginecológica e bariátrica”, ressalta Dr. Elias.

No Brasil, a maioria dos centros de cirurgia robótica está concentrada em hospitais particulares das regiões Sul e Sudeste. Em São Paulo, no Sírio-Libanês, Albert Einstein, Oswaldo Cruz, A.C. Camargo, 9 de Julho e no ICESP -  Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, são encontrados no Instituto Nacional do Câncer (Inca) e no Hospital Samaritano. O Hospital das Clínicas de Porto Alegre completa a lista de instituições que possuem robôs.

Treinamento de toda a equipe

O procedimento robótico exige muita perícia e, portanto, que toda a equipe presente na sala de cirurgia seja bem treinada. Cirurgião, assistentes, instrumentador, anestesista, enfermeira e circulantes precisam passar por curso teórico-prático, sempre com supervisão nos primeiros 20 casos.

“O cirurgião pode ainda realizar a cirurgia de outra cidade ou país, pois os comandos entre o console e o paciente são teleguiados, promovendo o intercâmbio de conhecimento em patologias raras com médicos de qualquer parte do mundo”, complementa Dr. Kim.

A cirurgia aberta provavelmente nunca será descartada, pois há casos específicos em que a videolaparoscopia e a robótica não se aplicam, mas a tendência é que a evolução dos robôs diminua consideravelmente a indicação do método mais invasivo.

No futuro, pode ser que os procedimentos robóticos serão predominantes. E ainda que atualmente sejam mais caros e menos comuns, a aposta dos pesquisadores é que no longo prazo com a redução das complicações e a diminuição no tempo de internação, contribua para romper a barreira do custo e ampliar o acesso a essa tecnologia.


Fonte: 21º Congresso Mundial da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos – IFSO 2016,  28 de setembro a 01 de outubro de 2016,  Windsor Barra Hotel e Congressos

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